A filosofia anarquista enfatiza a liberdade individual e a auto-gestão, criticando a autoridade, a coerção, a hierarquia e a opressão, buscando por relações horizontais e libertárias. Trata-se de uma perspectiva sobre a vida que propõe uma emancipação e crítica diante da ordem estabelecida, propondo que o poder seja descentralizado e as relações respeitosas.
Pensar uma terapêutica anarquista consiste em evidenciar uma relação não-hierárquica, considerando a autonomia do terapeuta e da pessoa em atendimento, desconstruindo o papel de autoridade do terapeuta, rompendo hierarquias internas e externas, se colocando em favor da liberdade e da emancipação de ambos, dando maior ênfase à experiência prática, valorizando a criatividade e a autogestão.
"Anarquista é, por definição, aquele que não quer ser oprimido, nem deseja ser opressor; é aquele que deseja o máximo bem-estar, a máxima liberdade, o máximo desenvolvimento possível para todos os seres humanos."
(Errico Malatesta)
Entre as principais características desta terapêutica:
- Colaboração igualitária: a terapia acontece de maneira não hierárquica, onde terapeuta e paciente colaboram como parceiros, respeitando a autonomia e as diferenças individuais, possibilitando um espaço de empoderamento e co-criação do processo terapêutico.
- Respeito pela autonomia: enfatizar a autonomia da pessoa atendida em terapia, permitindo que tome decisões sobre seu próprio direcionamento e tratamento, sem imposições ou julgamentos.
- Desconstrução de autoridades: desafiar as normas e estruturas sociais autoritárias, auxiliando a pessoa em atendimento a colocar em questão crenças internalizadas e a resistir a pressões externas que limitem sua liberdade.
- Reavaliação de hierarquias internas: explorar como as hierarquias sociais e familiares podem afetar a autoimagem e o bem-estar da pessoa, promovendo um espaço sem julgamentos, para se libertar dessas influências.
- Liberdade pessoal: incentivar a pessoa em atendiemnto a se conectar com seus desejos e paixões autênticas, explorando formas de viver que reflitam seus valores pessoais e suas aspirações.
- Exploração do devir: colaborar para uma compreensão mais profunda da existência para além de categorias impostas pela sociedade, enfatizando a vida como um processo em constante transformação.
- Importância das relações: enfatizar a construção de redes de apoio e solidariedade, reconhecendo a importância das relações comunitárias na saúde mental e no bem-estar.
- Espaço seguro para expressão: criar um ambiente terapêutico que promova a solidariedade, onde a pessoa atendida se sinta segura para compartilhar suas experiências e vulnerabilidades.
- Foco na prática: a teoria deve estar intimamente ligada à prática, onde a terapia pode incluir atividades práticas que auxiliem a pessoa atendida a aplicar conceitos em suas vidas cotidianas.
- Experimentação e criatividade: incentivar a expressão criativa como meio de explorar e afirmar as singularidades, incluindo práticas artísticas, escrita, colagem e outras maneiras de expressão, que permita conexões criativas.
- Flexibilidade e transformação: o terapeuta se coloca aberto a novas abordagens e metodologias, reconfigurando a terapia às necessidades das pessoas atendidas.
- Processo de libertação: integrar dinâmicas que auxiliem as pessoas a entenderem melhor suas condições, promovendo a autogestão de seus sofrimento, visando sua autonomia e emancipação.
- Práticas de autocuidado: encorajar práticas de autocuidado, que auxiliem as pessoas em terapia a desenvolverem habilidades de autogerenciamento de sua saúde emocional.
Uma terapêutica inspirada na perspectiva anarquista visa possibilitar um espaço transformador, que valoriza a emancipação, a criatividade e a liberdade da pessoa em terapia. Ao desafiar estruturas de poder e promover relações horizontais, essa abordagem pode auxiliar os indivíduos a se tornarem mais conscientes de suas necessidades e desejos, gerando um maior senso de liberdade e responsabilidade em suas vidas.
