O Mito da Doença Mental é um livro escrito por Thomas Szasz, psiquiatra e professor húngaro, uma obra fundamental na crítica à psiquiatria tradicional. Publicado originalmente em 1961, o livro questiona a validade do conceito de "doença mental" como uma entidade médica comparável a doenças físicas.
Thomas Szasz argumenta que o rótulo de "doença mental" é utilizado para descrever comportamentos ou estados emocionais que não se conformam às normas sociais ou morais, ao invés de indicar uma condição médica real. Ele critica a psiquiatria tradicional por medicalizar problemas existenciais e éticos, utilizando diagnósticos para controlar ou marginalizar indivíduos.
"Os problemas a que me dirijo neste livro são fáceis de serem formulados, mas as poderosas pressões econômicas e culturais que definem suas respostas "corretas" tornam difícil seu esclarecimento. Esses problemas colocam questões como: O que é doença? Quais as tarefas aparentes e quais as tarefas reais dos médicos? Que é doença mental? Quem define o que constitui doença, diagnóstico e tratamento? Quem controla o vocabulário da medicina e da psiquiatria, e os poderes do médico-psiquiatra e do cidadão-paciente?"
(Thomas Szasz, prefácio de 'O mito da doença mental')
Sua obra teve um impacto significativo no movimento da antipsiquiatria, embora Szasz tenha mantido certa distância do termo, preferindo se identificar como um defensor da liberdade individual e da responsabilidade pessoal. Ele questiona o uso da psiquiatria para justificar intervenções coercitivas, como internações involuntárias e tratamentos forçados.
Publicado pela primeira vez em 1961, O Mito da Doença Mental colocou em questão os debates sobre a psiquiatria e a compreensão da saúde mental. Esta obra desafia as bases conceituais da psiquiatria tradicional, questionando a ideia de que os chamados "transtornos mentais" sejam entendidos como doenças no mesmo sentido que enfermidades físicas.
Seu principal argumento defende que o conceito de "doença mental" é utilizado pela psiquiatria para justificar intervenções coercitivas, patologizando comportamentos que não se encaixam nas normas sociais. Ele considerava esse processo uma violação dos direitos individuais.
Szasz escreveu o livro em um período em que a psiquiatria ganhava cada vez mais influência no controle social e no tratamento de comportamentos desviantes. Seu objetivo era desmistificar a noção de doença mental, argumentando que ela é frequentemente usada como uma metáfora para descrever questões existenciais, dificuldades interpessoais ou violações das normas sociais.
Segundo Szasz, o termo "doença mental" não descreve uma condição médica real, mas é um termo utilizado genericamente para questões de comportamento e emoção. Enquanto as doenças físicas têm uma base biológica identificável, como uma infecção ou lesão, as doenças mentais são construções teóricas usadas para explicar ações que contrariam ou incomodam as normas sociais.
Com isso, a psiquiatria é usada como um mecanismo de controle social, rotulando pessoas com comportamentos desviantes como "transtornos" para justificar suas intervenções coercitivas, como internações involuntárias e tratamentos forçados. Sua crítica à psiquiatria tradicional desvela seu papel de reduzir a autonomia dos indivíduos ao patologizar o sofrimento humano.
O autor distingue entre doenças reais, que afetam o corpo e podem ser diagnosticadas objetivamente, e dificuldades existenciais ou éticas, que são inerentes à condição humana. Para ele, muitos dos problemas tratados pela psiquiatria estão no segundo grupo e não deveriam ser medicalizados, pois se tratam de questões inerentes à vida e não doenças propriamente.
Seus questionamentos apresentados no livro problematizam o modelo biomédico da psiquiatria, que busca causas biológicas para transtornos mentais, muitas vezes ignorando os contextos sociais, familiares, culturais e individuais. Ele considera esse modelo reducionista e inadequado para compreender a complexidade do comportamento humano.
Além disso, Szasz também defende a liberdade individual, entendendo que as pessoas devem ser tratadas como agentes livres e responsáveis, e não como pacientes incapazes de gerir suas próprias vidas. Ele critica intervenções psiquiátricas que, sob o pretexto de ajudar, violam direitos individuais e reduzem a capacidade de escolha da pessoa em sofrimento.
Com sua obra, Thomas Szasz foi associado ao movimento da antipsiquiatria, apesar disso ele se distanciou desse rótulo, defendendo a prática voluntária da psicoterapia em vez da intervenção coercitiva. Suas ideias continuam sendo relevantes em discussões sobre a medicalização da vida, o papel da psiquiatria na sociedade e os limites éticos do cuidado em saúde mental.
Entre os principais destaques deste livro estão uma crítica ao conceito de doença mental; o entendimento dos transtornos psiquiátricos como conflitos pessoais e éticos, ao invés de patologias; uma crítica à psiquiatria tradicional e seu uso como instrumento de controle social. Com essas constatações o autor defende a responsabilidade e liberdade individual, diferenciando doenças cerebrais de dificuldades pessoais.
Referências:
BRITTO, Ilma Aparecida Goulart de Souza. As implicações práticas do conceito de doença mental. Estudos, Goiânia, v. 31, p 157-172, dez. 2004.
SZASZ, Thomas S. O mito da doença mental: fundamentos de uma teoria da conduta pessoal. Trad.: Irley Franco e Carlos Roberto Oliveira. São Paulo: Círculo do Livro, 1974.