Niilismo passivo e ativo em Nietzsche

Segundo Friedrich Nietzsche, niilismo é a constatação do rompimento dos valores tradicionais, geralmente associados à moral cristã e à metafísica ocidental, que perderam sua autoridade a partir da crítica moderna. Esse vazio gera uma necessidade de superar e criar novos valores que afirmem a vida. O filósofo distingue entre dois tipos principais de niilismo: ativo e passivo.

Esse processo emerge quando o ser humano constata que os valores entendidos antes como supremos não mais conferem sentido à vida, resultando num vazio existencial e crise de significados. Para Nietzsche, o niilismo expressa a decadência e o desgaste de uma civilização, abrindo a possibilidade de superar essa decadência com a criação de novos valores que não dependam de fundamentos metafísicos.

"Que significa niilismo? Que os valores supremos se desvalorizam."
(Vontade de Potência, fragmento póstumo)

O niilismo passivo é caracterizado pela resignação e desistência de criar novos valores. Em vez de reagir, se coloca numa postura de derrota e desânimo, incapaz de lidar com a crise de valores. Por não conseguir criar novos valores, busca meios de consolo, como ideologias, fanatismos, dogmas religiosos ou fatalismos, repetindo valores ultrapassados, mesmo sabendo que eles perderam sentido.

Diferente deste é o niilismo ativo, uma força criativa e criadora, uma destruição consciente e voluntária dos antigos valores com o objetivo de abrir espaço para a criação de novos valores. Reconhece o vazio deixado pela decadência dos antigos sistemas, mas o encara como uma oportunidade para criar algo novo e distinto.

"O niilismo passivo é aquele que se resigna à ausência de valores, enquanto o ativo destrói para criar novos caminhos."
(Vontade de Potência, fragmento póstumo)

Trata-se de uma postura de força e afirmação, um "sim" à vida mesmo diante da ausência de valores e sentidos. Envolve uma disposição de destruir para criar, abandonando os velhos dogmas e experimentando novos modos de existência, afirmando a vida em sua plenitude e multiplicidade. O "além-do-homem" é um símbolo do niilismo ativo, ele não apenas rejeita os valores da tradição, mas se coloca como criador de seus próprios valores.

A diferença central está na reação à ausência de valores, o niilismo passivo se coloca na paralisação, enquanto que o niilismo ativo promove um movimento para além da crise, utilizando a destruição como um ato criador. Esses conceitos refletem a concepção de Nietzsche sobre um novo tipo de ser humano, capaz de transcender o vazio de sentidos, afirmando a vida de maneira criativa e singular.


Referências:
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra: Um livro para todos e para ninguém. Tradução de Mário da Silva. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal: Prelúdio a uma filosofia do futuro. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
NIETZSCHE, Friedrich. Vontade de potência. Tradução de Marcos Sinésio Pereira. São Paulo: Hedra, 2017.

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