Diferentes abordagens terapêuticas...

Existem distintas perspectivas terapêuticas para lidar com as emoções e as questões existenciais, cada uma parte de certos embasamentos teóricos, de um entendimento sobre o ser humano e o funcionamento das emoções. As abordagens terapêuticas oferecem distintas maneiras para fazer algo do sofrimento emocional e dos dilemas existenciais.

Cada pessoa atravessa necessidades, questões, dificuldades e interesses específicos, por isso há uma multiplicidade de abordagens terapêuticas, possibilitando atender melhor às peculiaridades de cada um. Neste texto apresento brevemente a psicanálise, a gestalt-terapia, a psicoterapia fenomenológico-existencial, a filosofia clínica, a psicoterapia humanista, a esquizoanálise, a psicologia sócio-histórica e a somaterapia.


Psicanálise

A psicanálise tem como principal intuito promover a compreensão e resolução de conflitos emocionais inconscientes que influenciam o comportamento, os pensamentos e as emoções. Com base nas teorias de Sigmund Freud, busca-se trazer à consciência conteúdos psíquicos reprimidos ou não elaborados, entendidos como a raiz dos problemas emocionais e dos sintomas psicológicos. 

Na perspectiva psicanalítica entende-se que a maioria dos conflitos e dificuldades emocionais estão enraizados em conteúdos inconscientes, por isso o terapeuta ajuda o paciente a identificar esses conteúdos (desejos, medos e memórias reprimidas) e a trazê-los para a consciência, de modo a compreender melhor as origens de seus sofrimentos e dificuldades emocionais.

Um dos propósitos centrais da psicanálise é resolver os conflitos internos, muitas vezes relacionados à infância ou experiências passadas reprimidas. Ao se conscientizar desses conflitos, acredita-se que o paciente pode fazer algo para resolvê-los de maneira saudável e evitar que continuem a afetar sua vida.

Entende que as pessoas utilizam mecanismos de defesas inconscientes para lidar com seus conflitos e ansiedades, buscando explorar e entender essas defesas, para lidar de maneira mais saudável com suas emoções. Conforme o paciente vai tomando consciência de seus processos inconscientes, vai também se libertando de comportamentos repetitivos, desenvolvendo novas maneiras de lidar com suas emoções e relacionamentos.

Ao lidar com as causas inconscientes dos sintomas, a terapia pode ajudar o paciente a sentir-se mais livre de seus conflitos psicológicos. A psicoterapia psicanalítica costuma ser um processo longo, com sessões frequentes (uma ou mais vezes por semana) para a análise do inconsciente. O processo é visto como gradual, pois envolve desvelar camadas de defesas e resistências ao longo do tempo.


Gestalt-terapia

O intuito da Gestalt-terapia é auxiliar o indivíduo a desenvolver uma maior consciência de si mesmo, de suas experiências e de suas relações com as outras pessoas. Sua abordagem toma como referência o humanismo e o existencialismo, valorizando o "aqui-e-agora", que consiste na experiência presente e na responsabilidade pessoal.

A terapia busca promover a conscientização e o contato genuíno com as emoções, pensamentos e comportamentos, incentivando a pessoa a vivenciar plenamente sua experiência no momento presente. Um de seus objetivos é ampliar a consciência (awareness) do indivíduo em relação a si mesmo e ao ambiente, percebendo seus sentimentos, pensamentos, sensações corporais e ações.

O terapeuta auxilia o cliente a explorar o que está acontecendo no momento atual – emoções, percepções e comportamentos. Um dos conceitos fundamentais é o de "gestalts inacabadas" – experiências ou situações do passado que não foram resolvidas adequadamente e que continuam a influenciar os sentimentos no presente. A terapia traz essas questões à consciência para que possam ser experienciadas e resolvidas, permitindo que o indivíduo siga em diante com sua vida.

Esta terapêutica busca promover uma integração dos diferentes elementos da personalidade, incluindo aspectos emocionais, cognitivos e corporais, para que o indivíduo se torne mais congruente, de modo que suas ações, emoções e pensamentos possam dialogar entre si e seguir num mesmo fluxo. Além disso, incentiva o cliente a se responsabilizar por suas escolhas e ações.

A gestalt-terapia colabora na capacidade de estabelecer um "contato autêntico" com os outros, que envolve estar presente nas relações, sem usar máscaras ou artifícios, se expressando de maneira genuína, comunicando como se sente. Para isso utiliza técnicas de "experimentação" para auxiliar a explorar diferentes aspectos da experiência, vivenciando e experimentando novas formas de ser e agir.

Outro objetivo importante da terapia é desenvolver uma sensação de autossuporte e autoconfiança, ao invés de depender excessivamente dos outros, inclusive do terapeuta. Ao ampliar a consciência e assumir a responsabilidade sobre si mesmo, o indivíduo pode confiar mais em seus próprios recursos internos e avaliações, se sentindo mais capaz de lidar com as demandas da vida.

A relação terapêutica nesta abordagem acontece por meio de uma troca autêntica entre terapeuta e cliente. O terapeuta se coloca presente de maneira genuína e aberta, sem se esconder por trás de uma postura de "especialista" ou "detentor de um saber", desenrolando um processo colaborativo. Não se busca alcançar um estado ideal, mas viver o presente de maneira plena.


Psicoterapia Fenomenológico-Existencial

O intuito da psicoterapia fenomenológico-existencial é auxiliar o indivíduo a explorar e compreender sua existência, suas escolhas e sua relação com o mundo. Fundamentada na fenomenologia e no existencialismo, essa abordagem busca colocar a pessoa em contato com sua experiência vivida, enfatizando a liberdade e a responsabilidade, sem impor uma visão pré-determinada de como deve viver a vida.

Esta psicoterapia busca compreender a experiência subjetiva da pessoa, do modo como vivencia sua realidade. O terapeuta não se baseia em teorias predefinidas, mas procura acompanhar o cliente em sua exploração de como percebe o mundo, seus sentimentos e experiências.

A liberdade é entendida como uma característica central da existência, que gera uma grande responsabilidade por suas decisões, por isso a terapia busca auxiliar o cliente a lidar com a angústia existencial que pode surgir diante das escolhas e incertezas da vida.

A terapia convida o cliente a perceber se está vivendo de acordo com seus próprios interesses ou se está apenas respondendo às expectativas externas ou sociais. Ao invés de tentar eliminar a angústia, busca-se aprender a viver com ela, aceitando-a como parte da existência.

Este terapêutica dialoga com as questões fundamentais da condição humana, como a liberdade, a morte, o sentido da vida, a solidão, entre outras. Não oferece respostas prontas para esses dilemas, mas convida o cliente a explorá-los e a encontrar seus próprios significados. Seu objetivo é auxiliar a estar mais presente consigo mesmo, com foco na experiência vivida no momento atual.

Outro objetivo importante da terapia é promover a autonomia, encorajando a pessoa a refletir sobre suas escolhas e a assumir a responsabilidade por trilhar seu próprio caminho, evitando cair na vitimização ou na inação. Reconhecendo que também enfrentamos limitações, sejam físicas, sociais, econômicas, temporais ou existenciais, a terapia propõe a aceitação dessas limitações.

A relação entre terapeuta e cliente acontece num encontro entre duas existências, onde o terapeuta se engaja de forma genuína, sem se esconder atrás de uma postura de autoridade ou de especialista. O terapeuta age como um facilitador, que auxilia a pessoa a explorar sua própria existência de maneira aberta, sem julgar ou impor interpretações.


Filosofia Clínica

O intuito da Filosofia Clínica é promover a compreensão profunda e singular do indivíduo, oferecendo um espaço de reflexão e diálogo filosófico considerando sua subjetividade e singularidade. Diferente das terapias tradicionais, a Filosofia Clínica não parte de teorias psicológicas pré-estabelecidas para interpretar a experiência humana, se utilizando de métodos filosóficos. 

Desenvolvida pelo filósofo brasileiro Lúcio Packter, a Filosofia Clínica é uma terapêutica que utiliza conceitos e ferramentas filosóficas para lidar com as questões existenciais, emocionais e relacionais de maneira personalizada. Um dos princípios centrais da Filosofia Clínica é o respeito pela singularidade do indivíduo, sem utilizar pressupostos universais sobre o que é "normal" ou "saudável", onde o terapeuta busca compreender essa singularidade sem impor teorias ou modelos.

O filósofo clínico utiliza ferramentas filosóficas para investigar como o partilhante organiza suas ideias, valores, sentimentos e percepções. Ao mapear a estrutura de pensamento da pessoa, busca-se compreender como a pessoa enxerga o mundo e a si mesma, como se relaciona com os outros e consigo mesma, possibilitando um entendimento de sua existência, seus pensamentos e seu entendimento de mundo.

Na filosofia clínica não há uma receita pronta para lidar as dificuldades ou questões de cada pessoa. O filósofo clínico organiza sua abordagem de acordo com a singularidade de cada pessoa, utilizando diferentes ferramentas filosóficas para lidar com suas questões, dependendo das necessidades de cada partilhante, procurando entender suas perspectivas.

Esta terapêutica também busca promover a autonomia, auxiliando o partilhante a tomar decisões com maior consciência de si. O processo terapêutico é uma jornada de reflexão sobre a própria existência. A relação entre o filósofo clínico e o partilhante é baseada num diálogo respeitoso e aberto, sem julgamentos. O terapeuta não se coloca numa posição de autoridade que dá respostas ou soluções, mas auxilia o partilhante a explorar suas próprias questões de maneira filosófica.

Diferente das clínicas tradicionais, a Filosofia Clínica não utiliza diagnósticos ou categorias psicopatológicas. Não procura classificar ou rotular o indivíduo com base em critérios normativos de saúde mental. Seu intuito é auxiliar o indivíduo a compreender sua singularidade, promovendo seu autoconhecimento e sua autonomia por meio de um diálogo filosófico respeitoso.


Psicoterapia Humanista

A psicoterapia humanista tem como intuito promover o desenvolvimento do potencial humano, facilitando o autoconhecimento, a autonomia, a autenticidade e o crescimento pessoal. Essa abordagem busca ajudar o indivíduo a se tornar mais consciente de si mesmo, de suas emoções e de suas relações, dando importância para a experiência subjetiva, a liberdade de escolha e a responsabilidade pessoal, colocando a pessoa no centro do processo terapêutico.

Esta perspectiva se opõe à visão determinista de ser humano, das abordagens psicanalíticas e comportamentais, enfatizando a capacidade de desenvolvimento pessoal e transformação. Acredita-se que todo ser humano possui uma tendência ao crescimento, à autorrealização e ao desenvolvimento de suas capacidades. Por isso, a terapia proporciona condições para que isso aconteça, auxiliando a pessoa a superar bloqueios emocionais e psicológicos que impedem sua trajetória.

Esta terapêutica encoraja a pessoa a viver de acordo com seus verdadeiros sentimentos, valores e crenças, promovendo uma maior autoconsciência, para que o indivíduo possa reconhecer e aceitar seus próprios sentimentos e pensamentos sem distorções ou defesas. Acredita-se que ao tornar mais consciente de si mesmo, o cliente pode fazer escolhas mais alinhadas com seus desejos e necessidades autênticas.

Por reconhecer que cada pessoa possui uma percepção própria da realidade, o terapeuta não utiliza de interpretações ou julgamentos, mas busca entender como a pessoa percebe o mundo e vivencia suas experiências. O terapeuta adota uma postura empática, genuína e não julgadora, criando um ambiente de acolhimento para o cliente se sentir seguro para explorar seus sentimentos e pensamentos, proporcionando um espaço de aceitação e respeito.

Cada pessoa é percebida como responsável por suas próprias decisões e pelo direcionamento de sua vida. A terapia auxilia o cliente a tomar consciência dessa liberdade e a assumir a responsabilidade por suas escolhas e ações. O objetivo é auxiliar o cliente a se libertar de padrões condicionados ou expectativas externas e a fazer escolhas mais conscientes e autênticas.

Por facilitar a expressão livre das emoções e a aceitação da pessoa, aos poucos a pessoa vai superando bloqueios emocionais que a impedem de viver plenamente, reduzindo assim seu sofrimento emocional. Esta terapia auxilia a pessoa em sua autorrealização, para que possa alcançar seu pleno potencial enquanto ser humano, explorando seus talentos, interesses, valores e propósitos de vida, permitindo que siga em direção do que realmente deseja ser.

O terapeuta permite que o cliente se sinta livre para explorar suas emoções e pensamentos, sem medo de reprovação. O cliente é visto como o agente principal de seu próprio crescimento, e o terapeuta atua como um facilitador, acompanhando o cliente em sua jornada de autodescoberta e autoexpressão. O cliente é encorajado a encontrar suas próprias soluções e a assumir seu processo de cura e transformação.


Esquizoanálise

O intuito da esquizoanálise, criada por Gilles Deleuze e Félix Guattari, é desconstruir as estruturas psíquicas e sociais que limitam o desejo e a criatividade do indivíduo, possibilitando uma reconfiguração das forças inconscientes, abrindo espaço para novos modos de existência.

Em vez de se concentrar nos padrões normativos de saúde mental ou de normalidade, a esquizoanálise busca liberar os fluxos desejantes que são reprimidos ou capturados por instituições, normas sociais e convenções, favorecendo a criação de subjetividades mais libertas, múltiplas e singulares.

Um dos principais objetivos da esquizoanálise é a desconstrução das estruturas psicológicas, sociais e políticas que aprisionam o desejo de instâncias como a família, a educação, o trabalho e o Estado, buscando liberar o desejo e possibilitar que o indivíduo possa encontrar ou criar novas maneiras de ser e se relacionar.

O desejo é entendido como uma força produtiva, sempre em movimento e criando novas realidades. Ao contrário da psicanálise, que muitas vezes vê o desejo como algo a ser controlado ou interpretado em termos de faltas ou repressões, a esquizoanálise encara o desejo como uma força que se expressa de maneira criativa e múltipla.

A esquizoanálise não visa "curar" o indivíduo ou restaurar uma normalidade. Em vez disso, propõe a criação de novas subjetividades, outras maneiras de viver e de se relacionar consigo mesmo e com o mundo, libertas de categorias fixas e identidades rígidas, permitindo a experimentação de novas maneiras possíveis de ser e viver, em favor da multiplicidade e da singularidade.

O "esquizo" é uma metáfora para diferentes modos de subjetivação, um modo de existência mais aberto, fluido e conectado com os fluxos desejantes, enquanto o "neurótico" seria uma subjetividade mais rígida, controlada e repressiva, que tenta sempre impor uma ordem fixa ao caos.

Ao invés de interpretar o inconsciente de acordo com os modelos simbólicos tradicionais, como faz a psicanálise, a esquizoanálise propõe uma cartografia do inconsciente, mapeando as conexões, os fluxos e as intensidades que constituem o inconsciente de cada indivíduo, sem recorrer a categorias fixas ou interpretações pré-estabelecidas.

O inconsciente, na esquizoanálise, é visto como um espaço de produção e criação contínua, onde o analista auxilia o indivíduo a mapear seus próprios recursos e forças. Deleuze e Guattari argumentam que as estruturas sociais, como o capitalismo, capturam e controlam o desejo. O capitalismo configura o desejo para que ele se expresse por meio do consumo e da produção, limitando outras formas de expressão desejante.

A esquizoanálise busca liberar o desejo dessa captura social e auxiliar o indivíduo a encontrar novas formas de existência que não estejam subordinadas às normativas dominantes, propondo uma análise das forças que configuram nossas relações e subjetividades.

Ao invés vez de focar apenas nas grandes estruturas de poder (como o Estado ou o capitalismo), explora as maneiras pelas quais o desejo é moldado e controlado nas pequenas interações cotidianas, nas relações familiares, no trabalho, nas amizades e nas experiências pessoais, visando identificar e desfazer as microformas de repressão e de controle que conduzem o desejo.

A esquizoanálise propõe uma abertura para o novo e para as diferenças., para que se possa experimentar novas formas de subjetividade e de relação com o mundo, permitindo a emergência do novo e da diferença, criando novas subjetividades e modos de existência.


Psicologia Sócio-Histórica

A psicologia sócio-histórica busca compreender a pessoa a partir da relação que o indivíduo estabelece com o contexto social e histórico em que está inserido. Entende que a mente e os processos psicológicos são moldados e transformados pelas interações sociais e pelas condições históricas, culturais e materiais.

Os pensamentos e as emoções não são entendidos como algo inato ou meramente biológico, mas como um processo dinâmico resultante das relações sociais e das atividades práticas do cotidiano. Esta perspectiva oferece uma visão crítica e dialética da subjetividade humana, destacando o papel da cultura, da linguagem e das práticas sociais na formação do pensamento e do comportamento.

A linguagem é entendida como uma ferramenta crucial que estrutura o pensamento e a consciência. Cada sociedade, em um dado período histórico, oferece diferentes ferramentas culturais, modos de organização social e práticas que configuram a maneira como o indivíduo pensa e se comporta.

Esta perspectiva entende o desenvolvimento psicológico como um processo dialético, numa relação constante entre o social e o individual. O indivíduo é influenciado pelo seu meio social, mas também participa ativamente na construção desse meio. A subjetividade é, portanto, resultado dessa interação constante e recíproca entre o sujeito e o espaço social.

Ao invés de entender a mente como algo que se desenvolve de maneira isolada, a psicologia sócio-histórica concebe que o sujeito e o contexto social estão profundamente interligados e se transformam mutuamente, tecendo uma crítica ao individualismo presente em muitas abordagens psicológicas tradicionais, que tendem a ver o desenvolvimento e o comportamento humano como processos isolados do contexto social.

Se opondo a este entendimento, concebe que o sujeito não pode ser entendido fora de suas interações com o meio social e cultural. Por colocar ênfase no contexto social e nas condições materiais da vida, essa concebe uma consciência crítica e transformação social, empoderando os indivíduos, colaborando a agir para transformar suas condições, promovendo uma mudança social mais ampla.

Esta perspectiva valoriza a ação prática no mundo. O indivíduo transforma o mundo ao mesmo tempo em que é transformado por ele. Isso significa que o desenvolvimento psicológico é inseparável das atividades concretas que as pessoas realizam em suas vidas cotidianas, como o trabalho, a educação, a participação em comunidades e outras atividades sociais.

Ao destacar a relação dialética entre o social e o individual, essa abordagem busca compreender como as condições materiais, o contexto histórico, as práticas culturais e as interações sociais configuram os pensamentos e ações, possibilitando uma visão crítica que reconhece o papel do poder e da ideologia na constituição da subjetividade.


Somaterapia

A somaterapia é uma terapêutica criada por Roberto Freire nos anos 1970 no Brasil, que combina técnicas corporais, terapia de grupo e práticas políticas inspiradas no anarquismo. Seu intuito é promover a libertação emocional por meio da conscientização corporal, possibilitando a superação de repressões sociais e a expressão livre do desejo. A somaterapia busca auxiliar os indivíduos a se libertarem de condicionamentos sociais que geram bloqueios emocionais e físicos.

Esta terapia tem influência de três fontes: a psicologia corporal de Wilhelm Reich, a anarquismo enquanto atuação pessoal libertária, e a capoeira angola, uma prática corporal de resistência e liberdade. O intuito central da somaterapia é a libertação do corpo.

Para Roberto Freire, os condicionamentos e repressões impostos pela sociedade afetam não apenas o comportamento, mas também o corpo físico, gerando tensões musculares, bloqueios energéticos e emoções reprimidas. A somaterapia, portanto, propõe que a cura psicológica seja alcançada através da liberação da expressão corporal.

Por meio de exercícios corporais, a terapia busca quebrar os bloqueios musculares, fazendo uso da capoeira angola, como prática para promover a libertação corporal e emocional. Com seus movimentos fluidos, lúdicos e desafiadores, é usada como um meio de desenvolver a consciência corporal, a flexibilidade, a espontaneidade e a habilidade de lidar com conflitos de maneira criativa. A prática da capoeira é usada para resgatar a liberdade de movimento e a expressão corporal, além de promover uma ligação mais profunda com o próprio corpo.

A somaterapia utiliza a terapia de grupo como um dos seus principais instrumentos. Freire acreditava que o trabalho em grupo facilitava a quebra de barreiras emocionais e sociais, criando um ambiente de apoio mútuo e de expressão coletiva. Nos grupos, os participantes exploram suas experiências de vida e emoções, tanto por meio de discussões como de atividades corporais, que permite trabalharem suas questões de forma mais aberta e conectada com os outros.

Inspirada por pelos princípios do anarquismo, a somaterapia tem um forte componente político, criticando as formas de controle social que reprimem a liberdade individual. Freire via o capitalismo e as instituições sociais (como a família, a escola e o Estado) como forças repressoras que sufocam o desejo e a criatividade dos indivíduos. A terapia, nesse sentido, busca conscientizar os participantes das formas de controle para promover resistência e autonomia.

Outro objetivo da somaterapia é o resgate do desejo. Influenciado por Wilhelm Reich, Roberto Freire acreditava que a repressão sexual e emocional, promovida pelas normas sociais, é uma das principais causas de sofrimento psíquico. A somaterapia, portanto, busca restabelecer a conexão entre o corpo e o desejo, permitindo que os indivíduos expressem suas emoções e vontades de forma mais livre e autêntica, sem os bloqueios sociais.

A somaterapia valoriza a expressão espontânea e criativa, acreditando que a repressão da criatividade é uma das principais formas de controle social. Através das práticas corporais, a terapia incentiva os indivíduos a se reconectarem com sua capacidade de agir de maneira espontânea e a expressarem suas emoções e pensamentos de forma mais genuína. A liberdade criativa é perebida como uma forma de resistência contra a alienação e a padronização imposta pela sociedade.

Alinhada com os princípios do anarquismo, a somaterapia busca promover a autonomia dos indivíduos. O intuito não é criar dependência do terapeuta ou das práticas, mas ajudar as pessoas a desenvolverem autoconhecimento, consciência crítica e a capacidade de tomar decisões por conta própria. Isso envolve assumir a responsabilidade por suas escolhas e ações, num processo de emancipação pessoal e social.

Além da transformação individual, a somaterapia também visa a transformação social. Ao libertar o corpo e a mente das repressões sociais, a terapia busca promover uma mudança no modo como os indivíduos se relacionam com a sociedade e com as estruturas de poder. A ideia é que, ao se tornarem mais conscientes e livres, as pessoas possam contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e sem opressão.

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