Psicologia, normalização e saúde emocional

Uma coisa que me intriga na psicologia é o costume de alguns psicólogos(as) elaborarem pressuposições sobre as pessoas. Após alguns anos estudando o funcionamento humano, há psicólogos(as) que acreditam entender tudo sobre uma pessoa, sem conhecer quase nada sobre ela.

Acreditam que, com algumas informações, podem oferecer uma "explicação" da pessoa. Inclusive isso é ensinado em muitas faculdades de psicologia sem a menor criticidade. Além de explicar, se sentem capacitados a prever comportamentos futuros e a recomendar o melhor a ser feito em cada circunstância, o que pode e o que não pode, o que é saudável e o que não é.

Tudo isso me parece muito pretensioso, presunção característica das ciências humanas baseadas na ciência positivista, que visam normalizar a vida e os modos de viver, incentivando e promovendo aqueles que são "adequados", rejeitando e extinguindo os "inadequados".

É neste ponto que a psicologia se inscreve, muitas vezes, como uma atividade normalizadora, legitimada pelo saber científico. Muitos dos psicólogos negam esse papel normalizador da psicologia, defendem que a ciência é "neutra", baseada em "dados", porém se examinarmos com cuidado uma teoria nem sempre se aplica a todas as pessoas.

Conheço pessoas que foram ao psicólogo ou à psicóloga, recomendados a "manterem o casamento", a "frequentarem uma religião", a "não desagradar os pais", ou a "desagradar os pais" e "romperem o casamento". Nos exemplos o tema é a normativa do que é tido por "adequado", direcionando a pessoa a um modo de ser, a partir de um padrão de "normalidade" e "saúde".

Mas viver num "padrão" não é sinônimo de viver bem, ter uma vida "normal" não é garantia de saúde. Pelo contrário, muitas vezes essa vida normalizada gera sofrimentos e doenças, e o mercado se aproveita disso, vendendo remédios e tratamentos para "curar" as pessoas que ele mesmo adoece.

Creio ser necessário um olhar crítico sobre a atuação de qualquer um que se dispõe a ajudar outra pessoa terapeuticamente, problematizando suas práticas e questionando os modelos de "saúde" e "doença", para que assim possa se abrir às experiências das pessoas ao invés de se fechar em teorias.

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