Como falar em saúde mental no momento que estamos vivendo?
Antes de qualquer coisa, não me desce o termo "saúde mental", pois parece algo apenas da "mente", acho mais interessante falar de saúde emocional e do corpo. Neste sentido, não creio ser possível tocar nestes temas sem falar de saúde coletiva, saúde social, saúde econômica e direito à saúde.
É muito comum no campo "Psi" encarar a saúde apenas a nível mental e individual, como se fosse não só algo relacionado à mente, mas também como algo meramente individual.
Mas não somos seres isolados, mesmo vivendo em isolamento convivemos com outras pessoas e num período histórico. Somos afetados pela relação que estabelecemos com as outras pessoas, com a economia, o acesso a saúde (ou não), o governo, a cultura, e pelo que fazemos com tudo o que nos acontece. Enfim, tudo isso compõe nossas experiências, que podem nos fazer bem ou não.
Então, como falar de saúde mental nesse momento? Numa pandemia que coloca em risco a vida de tanta gente, o distanciamento social, pessoas perdendo entes queridos, outras sem atendimento médico, um presidente que troca porções de vezes o ministério da saúde e não tem um plano para lidar com a situação, que nega a ciência e defende medicamentos sem comprovação, que atrasa a vacina (até o momento a maneira mais comprovadamente eficaz para conter o vírus), que debocha das mortes, que não se solidariza com as vítimas, e com pessoas que ainda assim o apoiam, que desrespeitam protocolos e não demonstram se importar com as vidas.
Diante do que estamos vivendo neste momento, sinceramente não me parece que estamos bem, além disso não creio que uma melhora seja possível apenas por meio de uma mudança individual. Creio ser necessária uma mudança também coletiva, não em direção a um caminho específico, pois cada pessoa trilha seu próprio caminho, mas na direção do cuidado de si e dos outros, na consideração e no apoio mútuo.
Sem direito à saúde básica e sem apoio mútuo não vejo possibilidades de saúde mental, emocional e muito menos do corpo.