A autoajuda e a psicologia


Uma das coisas mais difíceis para mim, por estudar psicologia há pouco mais de 20 anos, ter me formado na área e ter trabalhado como professor de psicologia, é conversar com pessoas que leem estes livros e querem falar sobre "psicologia".

O conceito de autoajuda, no sentido de se "autoajudar" é muito interessante, porém o modo como costuma ser apresentado nessas publicações nem sempre é saudável para uma pessoa. Tem pessoas que se cobram muito para alcançar os resultados e metas apresentadas nestas publicações.

Não é que esses livros sejam totalmente ruins, alguns deles podem até conter alguns conteúdos úteis, porém a maior parte deles se apresenta como manuais e guias para se conquistar a felicidade, para se realizar metas de vida ou conhecer sobre si mesmo, geralmente utilizando o autocontrole e alguns passos determinados.

Isso parece bom, não? Mas não é simples assim. Esses livros costumam partir de suposições ou experiências que foram aplicadas em apenas uma ou poucas pessoas, e que funcionaram por um certo tempo. Partindo disso eles apresentam como técnicas universais, como se servissem para qualquer pessoa, em qualquer circunstância.

Alguns deles inclusive se dizem "científicos", mas o que fazem não é ciência, muito menos psicologia. Eles costumam apresentar regras que devem ser seguidas a risca para se obter o êxito. E quando você não obtém o resultado esperado, a culpa é "toda sua". Mas na psicologia as coisas não funcionam assim, me explico.

A psicologia entende que cada pessoa é única, com sua história de vida, seus valores, suas disposições e indisposições, seus interesses e desinteresses, suas capacidades e seus limites. Ninguém é visto como "super-homem" ou "super-mulher", que pode conseguir o que acreditar...

Na psicologia, se trabalha com a as singularidades de cada indivíduo, portanto sua prática não é genérica, mas personalizada, específica para cada pessoa. Apesar da ciência se utilizar de conceitos e generalizações, a psicoterapia é um trabalho direcionado para cada indivíduo, pois depende da história, das condições e disposições de cada um.

Mais especificamente, no existencialismo e na fenomenologia, que são as vertentes que utilizo, não se entende que uma pessoa possa ser feliz ou ter uma vida saudável seguindo regras e manuais prontos, pois o próprio conceito do que seja felicidade ou realização varia de pessoa para pessoa. Os "guias prontos" podem calhar de servir para uma ou outra pessoa, mas no geral não é assim que funciona.

A fenomenologia existencial parte do entendimento de que cada pessoa deve ser compreendida como única, e que possui necessidades, dificuldades e possibilidades distintas das outras pessoas. Portanto, não visa enquadrar nem ajustar, mas possibilitar que cada um se manifeste de seu modo, buscando meios para lidar com suas dificuldades de maneira singular, de acordo com suas condições e possibilidades, ampliando suas perspectivas sobre o mundo e sobre si mesma.

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