Características psicológicas da direita e esquerda

Será possível constatar diferenças nos modos de ser, sentir, pensar e agir de uma pessoa, relacionados com sua opinião política? Será que as pessoas que se posicionam politicamente em favor da direita costumam encarar a vida de um modo distinto das que se posicionam à esquerda?

Há diversos fatores que levam uma pessoa optar pela "direita" ou "esquerda", podendo envolver costumes familiares, se sentir aceito ou fazer parte de um grupo de pessoas, sentir necessidade de defender uma vertente ou de pertencimento a uma ideologia política, ou justamente se identificar com uma tendência.

As características psicológicas citadas são no sentido de modos de ser, pensar, perceber, sentir e se posicionar diante da vida, relacionadas com partidários que se identificam realmente com seu posicionamento político e não eleitores momentâneos ou extremistas. Os extremistas, de ambos os lados, tendem a ser mais radicais em todos os aspectos, deste modo costumam levar uma vida mais tensa e rígida consigo e com os outros. Além disso, as características citadas correspondem a características gerais, que podem estar relacionadas com alguns grupos de pessoas, e que talvez não sirvam para uma pessoa específica, pois cada pessoa é irrepetível.

Por direita, partirei de um posicionamento que entende a hierarquia e a ordem como necessárias e a desigualdade social como inevitável, justificando esta por meio da tradição, desconsiderando as diferenças e as minorias, valorizando a meritocracia. Por esquerda, parto daquela que se caracteriza pela defesa da equidade, dos direitos para as minorias, que se preocupa com as pessoas que estão em desvantagem econômica, entendendo que essas circunstâncias são fruto de condições históricas, buscando reduzir as desigualdades sociais.

Tanto as pessoas de direita quanto as de esquerda sustentam seus modos de ser por meio de discursos e crenças que mantêm as maneiras como cada uma se percebe leva a vida, esses discursos orientam o modo como cada uma se percebe e entende a "realidade".

As pessoas de esquerda costumam valorizar a justiça social, a compaixão, a proteção dos fracos e das minorias, não por merecimento de seus esforços, mas por uma questão de dignidade humana, no sentido mais humanista do termo. Costumam tender mais para o progressismo e para a inovação, valorizando as pessoas de raças diferentes e de distintas orientações sexuais, se sentindo bem na diversidade.

Os partidários da direita costumam valorizar mais uma tendência conservadora, acreditando que a moral e os valores são universais e necessários, e que manter os modos de ser tradicionais é algo muito importante para a manutenção da ordem social. Por conta disso, tendem a ver as pessoas diferentes de si como uma ameaça, que deve ser ser excluída ou evitada, inclusive podem sentir uma certa raiva ou até mesmo ódio pelo diferente.

Costumam atribuir muita importância para a autoridade e as regras, acreditando que é possível alcançar uma harmonia por meio do ordenamento da sociedade. Para eles, mudar as regras e os tabus pode ser algo muito perigoso, a simples ideia de mudança pode ser muito turbulenta, pois acreditam que o rompimento com os costumes nos leva à desagregação social e ao caos. Não costumam sentir compaixão com pessoas diferentes de si, mas apenas com pessoas de seu grupo de convívio.

Grande parte das pessoas que tendem para a direita sentem um grande receio de mudanças ou diante de situações novas ou diferentes, por conta disso podem se sentir mais tensas, ansiosas e preocupadas em situações que fogem o esperado ou a norma. Para evitar esse sentimento desagradável, tendem a manter as coisas como estão. Deste modo, costumam estabelecer amizades e relações com pessoas que são leais, seguros e que se colocam com hostilidade para com as pessoas diferentes de si.

Preferem as relações hierárquicas, autoritárias e/ou submissas, que mantêm as normas e regras estabelecidas. Defendem o bem e o mal, o justo e o injusto, o correto e o incorreto como conceitos atemporais. Acreditam que a sociedade necessita de regras muito fixas, mantidas por meio da autoridade e da repressão, para que não vire uma bagunça. Sentem mais necessidade de segurança do que de experimentação. Apesar de pautarem seus discursos em favor de leis e regras, na prática muitos acabam por cumprir apenas o que lhes convém.

Já as pessoas de esquerda, costumam sentir mais dispostos diante de situações inusitadas, por conta disso tendem a ser mais flexíveis, relaxadas e despreocupadas. Acreditam que o bem e o mal, o justo e o injusto, o correto e o incorreto são criações humanas, e que estes valores se transformam historicamente, por conta isso não sentem necessidade de manter as coisas como estão, pelo contrário, sentem facilidade e necessidade de mudar. De um modo geral, procuram se relacionar com pessoas que são mais libertárias e diferentes de si.

Tendem a preferir as relações horizontais, de igualdade, ao invés das verticais, de autoridade e submissão. Não se sentem bem ao serem submetidos à ordens inquestionáveis ou em situações de hierarquia, onde ocupam cargos superiores e necessitam "cumprir as leis". Acreditam que a sociedade não vive bem com regras tão fixas, autoridade ou repressão, mas que estas podem ser transformadas na relação e no diálogo, valorizando mais a experimentação do que a segurança.

Ambos os lados buscam defender seus valores e ideais, se mantendo em suas crenças e valores, temendo ou se posicionando contrariamente às tendências diferentes de si. As pessoas que preferem a direita costumam utilizar discursos com base numa moral natural, religiosa, tradicional ou universal para defender seus valores; já os esquerdistas preferem basear seus discursos e defender seus valores por meio de conhecimentos e teorias contemporâneas e pós-modernas.

Apesar das descrições, essas características podem ou não corresponder às pessoas de cada vertente política, lembrando que cada pessoa é única e possui suas particularidades singulares, que podem ou não corresponder à características de grupos de pessoas, e que o intuito da psicologia não é classificar as pessoas, mas compreender os distintos modos de ser de cada um, entendendo as influências que seus modos de ser podem sofrer pela permanência ou envolvimento com certos grupos de pessoas.

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