A depressão pode ser boa!


Para muitas pessoas, a vida pode ser vista como sufocante, distante e solitária, especialmente entre multidões. Não apenas sem sentido, mas absurda.

Uma pessoa entra em depressão quando a quantidade de estresse que sofre é maior que a quantidade de estresse que pode tolerar. Isso pode ser um sinal de que algo não está bem e necessita ser melhorado ou pelo menos pensado e compreendido.

O tempo, espaço e solidão quando estamos na posição depressiva nos impede de tomar decisões precipitadas, nos capacita a ver o cenário mais amplo, reavaliando nossas relações sociais, pensar naqueles que são importantes para nós e nos relacionarmos mais significativamente com as pessoas que convivemos.

Por vezes ficamos tão imersos na rotina de nossa vida cotidiana que não paramos para pensar e sentir algo sobre nós mesmos. Quando nos afastamos dessa rotina e damos um passo para trás, reavaliamos nossas prioridades e podemos reformular novos projetos para nós mesmos, pautados na realidade e em nossas condições.

Essas atitudes podem nos capacitar a desenvolver uma perspectiva mais refinada e uma compreensão mais profunda de nós mesmos, de nossas vidas e de nosso entorno. Deste modo, somos capazes de quebrar o molde que tem sido imposto a nós e descobrir quem realmente somos, e fazendo isso, dar um significado mais profundo para a nossa vida.

Muitas das pessoas mais criativas e perspicazes sofrem ou sofreram de depressão. Entre eles Abraham Lincoln, Charles Baudelaire, Elizabeth Bishop, Sylvia Plath, Rainer Maria Rilke. Michel Foucault, Isaac Newton, Friedrich Nietzsche, Athur Schopenhauer, Leon Tolstoy, entre outros. Para citar Marcel Proust, e ele próprio sofreu  de uma severa depressão, "A felicidade é salutar para o corpo, mas só a dor robustece o espírito".

Pessoas na posição depressiva são frequentemente estigmatizadas como fracassadas ou perdedoras. Se essas pessoas estão na posição depressiva, é justamente porque tentaram muito, ou se sobrecarregaram em demasia, a tal ponto que desenvolveram uma posição depressiva. Elas queriam mais, queriam melhor e queriam diferente. Poderiam ter fingido, como muitas pessoas fazem, mas tiveram a força e a honestidade para admitir que algo não estava indo bem. Ao invés de fracassados ou perdedores, são ambiciosos, verdadeiros e corajosos.

Fazer com que essas pessoas acreditem que sua recuperação depende totalmente ou principalmente de pílulas, é negar a oportunidade não somente de identificar e lidar com importantes problemas da vida, mas também de desenvolver uma perspectiva mais refinada sobre a vida e uma profunda compreensão de si mesmo. É negar a eles a oportunidade de desenvolver seu potencial mais alto como seres humanos.


Adaptação da palestra "Can depression be good for you?", do psiquiatra e filósofo Neel Burton, por Bruno Carrasco.

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